terça-feira, 10 de setembro de 2019

Contra os Pregadores Retóricos


Por Eudmarly Sena

Na pregação fazemos eco à Palavra de Deus, somos meros imitadores do que já foi dito. Destarte, o ponto da pregação será repetirmos a verdade de Deus já expressa. A preocupação que o pregador precisa ter é justamente esta, a de ecoar a Palavra de Deus, sendo apenas o repetidor, desta feita fica claro o seu papel de coadjuvante e não o principal.

A palavra de Deus é verdadeira, e tudo o que o pregador faz é ecoar a verdade dela na medida que a expõe, essa Palavra que é o caminho para a vida eterna (Jo. 5.39). Uma vez que o pregador é um eco, ou seja, tudo o que ele faz é reiterar o que Deus já disse outrora, ele está se comprometendo e comprometido com a verdade inalienável de Deus e com os valores e princípios de sua santa Palavra. Assim o pregador se configura um portador da verdade divina revelada nas Escrituras.    

O “pregador eco” é um pregador que tem consciência do papel de coadjuvante, ele reconhece que não tem voz, é um repetidor. Quando dizemos que alguém precisa “ter voz”, estamos sugerindo que ele se faça aparecer, que se imponha perante a situação ou diante de outrem, ou seja, ele precisa ter papel principal. O pregador bíblico sabe e reconhece seu papel de coadjuvante, tudo o que faz é para glória de Deus (ICo. 10.31), seu papel não é o principal, é, sim, o de coadjuvante.

Na contramão do “pregador bíblico” está o “pregador retórico”, aqui preciso deixar claro quanto ao último. Como “pregador retórico” me refiro àquele que simplesmente tem a retórica como artifício para não fazer eco a Palavra de Deus.

Já ouvir certo pregador (pregador?) falar que nunca se interessou  em fazer curso de teologia, mas que tinha um enorme interesse por curso de retórica, essa era a paixão dele, disse. Como ele há tantos outros que em detrimento do conhecimento bíblico fazem da retórica um fim em si mesma, o que acaba falseando a Palavra de Deus com suas elucubrações tolas, mas que embriagam os ouvintes que, assim como o pregador, não são zelosos da Palavra de Deus, contrapondo seu  próprio Deus que é zeloso. (Ex. 20.5)

Em primeiro lugar a retórica não tem a tarefa de ensinar e instruir acerca da verdade e princípios, disso estavam persuadidos tanto Platão quanto Aristóteles, para eles isso era tarefa própria da filosofia, por um lado, e das ciências particulares, por outro. Em segundo, o alvo da retórica é “persuadir”, mais especificamente descobrir quais são os modos e os meios para persuadir. Ela procura lançar meios com intenção de convencer os homens partindo de opiniões prováveis.

Não é possível que um pregador que lance mão de meios escusos possa ser considerado bíblico, uma vez que não tem preocupação com a verdade, mas tende a impressionar o público que lhe ouve. O pregador retórico tira da Palavra de Deus conclusões rápidas, apressadas e precipitadas, blasfemas e etc., omitindo ou ignorando a mediação lógica pelos motivos apresentados, resumindo fica “sem pé nem cabeça”. Talvez por isso os tais tenham predileção pela pregação temática. Observo que nem toda pregação temática, ela necessariamente seja usada por um pregador retórico, por outro lado, é verdade que todo pregador retórico utiliza a pregação temática necessariamente.

O pregador sendo um eco, o qual é bíblico, tem a preocupação de como ensinar e instruir acerca da verdade e dos valores bíblicos, ponto que o pregador retórico não possui, pois, sua única preocupação é persuadir, e para isso utiliza meios escusos para, por fim, ludibriar.

O pregador retórico requer atenção para si, ele não é um eco e nem deseja ser, ele é a voz original que elucubra seduzindo a massa que por sua vez não está preocupada com a verdade, mas se atém ao jogo de palavras utilizada pelo tal “pregador”. E, reconheçamos, de forma brilhante eles têm constante sucesso, sempre que nos deixamos seduzir pelo estilo, apresentação e fala em vez da mensagem em si mesma.

A verdade é que precisa sobressair na pregação, ela é de Deus, vem de Deus, o pregador deve ser eco, reproduzir a mensagem divina com temor e tremor, é Deus quem deve aparecer. Ao expormos a Bíblia preocupados com a verdade nela revelada, Deus é quem fala, e é a fala que necessitamos ouvir, é a voz de trovão e como de muitas águas que deve “assolar” em nossos púlpitos até os ouvidos e corações dos cristãos.

O pregador retórico não quer ser eco, ele quer se fazer ouvir, ele quer aparecer, ele quer ser “a voz”. O pregador bíblico procura ser eco, ele não inventa tesouros na Palavra de Deus, ele as descobre e replica ao povo necessitado de ouvir a voz de Mestre, pois Deus falou ontem, fala hoje e continuará falando, pois ainda temos muito pregadores bíblicos que são ecos de Deus a uma geração pecadora que precisa de arrependimento. Quantos aos “pregadores retóricos” a igreja precisa cada vez menos deles.  
Na pregação seja um eco e não uma voz!


Um comentário:

  1. Cirúrgico mestre, tantas verdades em um texto só pode vir de um coração sábio e temente à Deus. que ele continue lhe usando como canal de bênção nessa geração.

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