As tragédias, o deus de Gondim e o Deus das Escrituras…
Perplexos. É assim que ficamos diante do sofrimento, das mazelas, das grandes tragédias.
O último terremoto que arrasou o norte do Japão, deixou-nos todos muito perplexos e apertou nossos corações. Mais perto de nós, no Brasil, no começo deste ano, as chuvas que fizeram desmoronar montanhas enormes sobre as casas no estado do Rio de Janeiro causou-nos também essa perplexidade, essa comoção que leva-nos à compaixão.
É normal nutrimos simpatia pelo nosso semelhante, pelo nosso próximo. Aliás, a palavra simpatia é a aglutinação de dois termos gregos, sún, que quer dizer ‘juntamente’ e páthos, eos-ous, que quer dizer ‘o que se experimenta’. Simpathos é a “participação no sofrimento de outrem”, “comunhão de sentimentos”. E sentimos isso. Afinal, os que sofrem são nossos próximos, nossos semelhantes.
E Deus? Sente ele também simpatia pelos que sofrem, pelos que são vitimados pela tragédia, pelas guerras, fomes, doenças e miséria?
Para alguns evangélicos que alcançaram alguma fama no Brasil, como Ricardo Gondim, pastor da igreja Assembléia de Deus Betesda, que tem amealhado incontáveis seguidores, a simpatia de Deus para com os que sofrem é incompatível com a idéia da soberania e governo de Deus sobre todas as coisas. Gondim desenvolveu uma nova teoria que dá explicação para os fenômenos que causam tragédia, afirmando que Deus resolveu abrir mão de sua soberania, de sua onisciência, onipresença para desenvolver relacionamentos verdadeiros com suas criaturas. Ele chamou sua teoria de “Teologia Relacional”. No entendimento de Gondim, Deus não pode evitar as catástrofes e não tem conhecimento do futuro.
Sam Mendes, diretor de cinema hollywoodiano, dirigiu um filme premiado chamado “American Beauty” (Beleza Americana) que tinha como premissa básica a frase “look closer” (olhe mais perto). A idéia do diretor ao retratar uma família média norte-americana era demonstrar que, de longe, a aparência era de que tudo estava certo; no lugar; funcional. Mas, à medida em que a família era vista mais de perto, era possível perceber seus problemas – cada vez mais complexos.
Fazemos bem em olhar mais de perto o ensino de Gondim e da teologia relacional. Vamos encontrar nele aquilo que o Dr. Valdeci Santos chamou de labirinto teológico, mas, em uma de suas várias saídas, esse labirinto leva-nos aos pressupostos encontrados na teologia do processo e no panenteísmo – ainda que o próprio Gondim não tenha condições de afirmá-lo.
O discurso de Gondim e de adeptos da teologia relacional, faz uso de linguagem evangélica e apela para a superioridade dos atributos morais de Deus em relação aos seus atributos invisíveis.
Todavia, para afirmar suas conclusões eles precisam interagir com idéias teológicas que romperam com a ortodoxia cristã. Não é muito difícil traçar suas idéias até a “Teísmo Aberto”, como demonstrou com bastante precisão o Dr. Valdeci dos Santos, em seu artigo “A Teologia Relacional: Suas Conexões com o Teísmo Aberto e Implicações para a Igreja Contemporânea”. Os elementos fundamentais da teontologia da “teologia do processo” também se vê nas afirmações de Gondim. Os papas da teologia do processo, Whitehead e Hartshorne também afirmaram que Deus está no tempo; que não conhece o futuro; que é sujeito a mudanças e reações em conformidade com os acontecimentos futuros. Quanto ao homem esses“papas do panenteísmo”, assim como Gondim, afirmam uma liberdade quase absoluta ao homem; afirmam ambos que a decisão humana determina os eventos futuros – que está em construção.
A impressão que os eforços de Gondim e seus seguidores causam é a de que ele empreendeu um grande esforço para fazer uma teodicéia um tanto desastrada, face à sua dificuldade em encontrar respostas bíblicas para as inquietantes perguntas acerca da presença do mal no mundo. O resultado, todavia, é a criação de um deus fraco. Um deus menor e vazio. Um deus que não oferece esperanças e deixa só o desespero e o temor diante das grandes tragédias.
O problema reside justamente na inabilidade dos adeptos da teologia relacional em lidar com doutrinas bíblicas como a providência, os efeitos da Queda, a Redenção – conforme a interpretação ortodoxa e histórica.
Não tendo condições de afirmar sua teologia com base na interpretação histórico gramatical das Escrituras, preenchem suas lacunas – ou buracos – com a argamassa de fontes estranhas ao cristianismo. Ao usar uma linguagem evangélica e tentar essa composição com o teísmo clássico, os adeptos da teologia relacional acabam incorrendo em um non sequitur, por não explorarem ao máximo os desdobramentos de suas afirmações e não assumirem a origem de suas premissas.
A idéia de Deus “renunciando aos seus atributos” é extremamente ofensiva à teontologia clássica. Para ficarmos em um só exemplo, podemos dizer que ao sujeitar-se a não saber, Deus teria de fazer-se menor do que o tempo; teria de colocar-se dentro do tempo. Ao fazer isso, o tempo tonar-se-ia maior do que seu próprio criador. Tornar a criatura maior que o criador é a prática comum do homem desde a Queda. Conforme se vê na carta do apóstolo Paulo aos Romanos, o homem é pródigo em tornar algo que Deus criou na própria divindade. A ofensa deste ato repousa em justamente na tentativa de conter o criador em algo palpável e cognoscível. Esta é a essência da idolatria:
…porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis;
porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.
Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos
e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis.
Romanos 1.19-23
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis;
porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.
Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos
e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis.
Romanos 1.19-23
A tabela abaixo exibe a diferença entre os atributos de Deus segundo as Escrituras e aqueles reinterpretados pela teologia do processo. Não será difícil encontrar na tabela o deus de Gondim…
Atributos Clássicos | Atributos Neo-clássicos |
1. Absoluto (Ausência de relatividade) | 1. Realitividade (Deus é internamente relacionado às criaturas através de sua ação sobre eles e seu relacionamento com eles) |
2. Realidade pura (não há potencialidade em Deus) | 2. Potencialidade (Nem tudo que é real ou pode ser real é possível a Deus) |
3. Total necessidade (Toda verdade sobre Deus é necessariamente verdade) | 3. Necessidade e contingência (Deus existe necessariamente, mas várias coisas são verdadeiras sobre a contingencialidade de Deus – por exemplo: seu conhecimento é contingente) |
4. Absoluta simplicidade | 4. Complexidade |
5. Criação ex nihilo por um ato de livre vontade; Deus poderia ter se refreado de cirar qualquer coisa, se assim quisesse. | 5. Deus e o mundo das criaturas existem necessariamente, embora os detalhes sejam contingentes. |
6. Onipotência (Deus tem o poder de fazer todas as coisas que sejam consistentes com sua vontade) | 6. Deus tem todo o poder que um agente metafísico poderia ter e possui limitações lógicas. |
7. Incorpóreo | 7. Corpóreo (o mundo é o corpo de Deus) |
8. Não temporalidade (Deus não vive em uma série de momentos no tempo) | 8. Temporalidade (Deus vive na sucessão temporal – mas para sempre) |
9. Imutabilidade (Deus não pode mudar porque Deus não está sujeito à sucessividade do tempo) | 9. Mutabilidade (Deus está continuamente atingindo sínteses mais elevadas de experiências) |
10. Perfeição absoluta (Deus é eternamente aquele que não pode ser mais perfeitamente conebido) | 10. Perfeição relativa (A todo momento Deus é mais perfeito do que o momento anterior, mas Deus está em estágio de constante desenvolvimento). |
Esse deus relacional, que está em processo, em fluxo, é um deus fraco, limitado, susceptível. É o deus da Hiera anagrafe, de Evêmero. Como no evemerismo, a divindade é construída segundo a imagem do homem. Limitado, frágil e susceptível. As Escrituras Sagradas oferecem uma definição diferente de Deus. Vejamos um dentre tantos textos que exaltam a majestade, governo, poder e grandeza de Deus, mostrando-O como o incomparável:
Quem na concha de sua mão mediu as águas e tomou a medida dos céus a palmos? Quem recolheu na terça parte de um efa o pó da terra e pesou os montes em romana e os outeiros em balança de precisão?
Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou, como seu conselheiro, o ensinou?
Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de entendimento?
Eis que as nações são consideradas por ele como um pingo que cai de um balde e como um grão de pó na balança; as ilhas são como pó fino que se levanta.
Nem todo o Líbano basta para queimar, nem os seus animais, para um holocausto.
Todas as nações são perante ele como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como um vácuo.
Com quem comparareis a Deus? Ou que coisa semelhante confrontareis com ele?
O artífice funde a imagem, e o ourives a cobre de ouro e cadeias de prata forja para ela.
O sacerdote idólatra escolhe madeira que não se corrompe e busca um artífice perito para assentar uma imagem esculpida que não oscile.
Acaso, não sabeis? Porventura, não ouvis? Não vos tem sido anunciado desde o princípio? Ou não atentastes para os fundamentos da terra?
Ele é o que está assentado sobre a redondeza da terra, cujos moradores são como gafanhotos; é ele quem estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar;
é ele quem reduz a nada os príncipes e torna em nulidade os juízes da terra.
Mal foram plantados e semeados, mal se arraigou na terra o seu tronco, já se secam, quando um sopro passa por eles, e uma tempestade os leva como palha.
A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? diz o Santo.
Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome; por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar.
Isaías 40.12-26
Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou, como seu conselheiro, o ensinou?
Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de entendimento?
Eis que as nações são consideradas por ele como um pingo que cai de um balde e como um grão de pó na balança; as ilhas são como pó fino que se levanta.
Nem todo o Líbano basta para queimar, nem os seus animais, para um holocausto.
Todas as nações são perante ele como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como um vácuo.
Com quem comparareis a Deus? Ou que coisa semelhante confrontareis com ele?
O artífice funde a imagem, e o ourives a cobre de ouro e cadeias de prata forja para ela.
O sacerdote idólatra escolhe madeira que não se corrompe e busca um artífice perito para assentar uma imagem esculpida que não oscile.
Acaso, não sabeis? Porventura, não ouvis? Não vos tem sido anunciado desde o princípio? Ou não atentastes para os fundamentos da terra?
Ele é o que está assentado sobre a redondeza da terra, cujos moradores são como gafanhotos; é ele quem estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar;
é ele quem reduz a nada os príncipes e torna em nulidade os juízes da terra.
Mal foram plantados e semeados, mal se arraigou na terra o seu tronco, já se secam, quando um sopro passa por eles, e uma tempestade os leva como palha.
A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? diz o Santo.
Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome; por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar.
Isaías 40.12-26
R. C. Sproul, em seu livro sobre filosofia, traz-nos lembrados de Parmênides, importante filósofo da antiguidade que foi assertivo quando determinou que se alguma coisa está mudando, na verdade ela não é. Pensar em mudança nos obriga a pensar em termos do que não é, e isso é impossível. Parmênides entendia que tudo que existe de modo absoluto, não pode mudar. Não pode ser e não ser ao mesmo tempo e da mesma maneira. Se está se tornando, não pode estar sendo. Se está sendo, não é nada. Tem de ser absolutamente, ou não ser. Sua célebre frase diz: “Tudo o que é, é!”. Moisés, um pastor de ovelhas de 80 anos de idade, no alto do monte Sinai, ouviu uma voz retumbante e terrível que disse: EU SOU O QUE SOU!
Diante de grandes tragédias, a alma humana parece anelar por respostas, por explicações. Até a curiosidade humana faz como que desejemos entender e conversar sobre o que aconteceu com tais e tais pessoas, em situações de morte, tragédias e coisas assim. O Senhor Jesus Cristo mesmo chama a atenção para aqueles dois episódios trágicos, a queda da torre de Siloé e o assassinato de galileus. Esses eram assuntos que estavam na “boca do povo”. No entanto, Jesus procurar mostrar aos seus discípulos que essas tragédias não são resultado, como às vezes gostamos de pensar, de castigos divinos ou coisas assim. Eles são governados por Deus através de sua misteriosa providência e são resultado de vivermos num mundo caído, corrompido pelas mazelas do pecado.A simpathos de Deus com a humanidade é tamanha que Ele resolveu enviar seu próprio filho, Jesus, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, Luz de Luz, para tomar nossa natureza humana e, como homem-Deus fazer-se mediador entre Deus e os homens. Ele veio para resgatar e redimir. Todo o que nEle crê, não perecerá, mas terá a vida eterna. No seu reino, na ressurreição, não haverão tragédias, morte, destruição e miséria. Teremos um reino sempiterno de amor, na presença do próprio Deus. Essa é a esperança cristã. Essa é grande promessa do evangelho!
Fonte: blogfiel
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