A Bíblia nos fala que conhecemos a Deus como o filho conhece seu pai, a esposa seu marido, o súdito seu rei e a ovelha seu pastor (estas são apenas quatro das muitas analogias usadas). Todas mostram a relação em que o conhecedor "procura" aquele que é conhecido, e este se responsabiliza pelo bem-estar daquele. Isto faz parte do conceito bíblico de conhecer a Deus; os que o conhecem — isto é, os que ele permite que o conheçam — são amados e cuidados por ele.
A Bíblia acrescenta, então, outro ponto: só podemos conhecer a Deus deste modo, mediante o conhecimento de Jesus Cristo, que é Deus manifestado na carne: "... não me conhece ...? ... Quem me vê, vê o Pai", "Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim" (Jo 14:9,6). É importante, portanto, que tenhamos bem claro na mente o que significa conhecer Jesus Cristo!
Para os discípulos que conviveram com Jesus, conhecê-lo era diretamente comparável ao conhecimento do grande homem de nossa ilustração. Os discípulos eram simples galileus, sem nenhuma razão especial de interesse por Jesus. Mas Jesus, o mestre que falou com autoridade, o profeta que era mais do que profeta, o Senhor que despertou neles crescente respeito e devoção até que o reconheceram como seu Deus, os encontrou, chamou-os a si, confiou neles e os designou como seus agentes para proclamar ao mundo o Reino de Deus. "Escolheu doze, designando-os apóstolos, para que estivessem com ele, os enviasse a pregar" (Mc 3:14). Eles reconheceram quem os havia escolhido e chamado de amigos como "o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16:16), o homem nascido para ser rei, o portador das "palavras de vida eterna" (Jo 6:68). O senso de lealdade e privilégio que este conhecimento trouxe transformou completamente a vida deles.
Quando o Novo Testamento fala que Jesus Cristo ressuscitou, um dos significados desta declaração é que a vítima do Calvário está agora, por assim dizer, livre. Qualquer pessoa, em qualquer lugar pode desfrutar do mesmo tipo de relacionamento com ele que os discípulos tiveram durante o tempo em que viveu entre nós.
As únicas diferenças são estas: primeira, sua presença entre os cristãos não é física, mas espiritual e, portanto, invisível aos olhos físicos. Segunda, baseado no testemunho do Novo Testamento, o cristão, desde o início, sabe as verdades sobre a divindade e o sacrifício de Jesus que os primeiros discípulos foram aprendendo gradualmente no decorrer dos anos. Terceira, Jesus não fala agora conosco mediante palavras novas, mas aplica a nossa consciência suas palavras registradas nos evangelhos, junto com todo o testemunho bíblico a seu respeito.
Conhecer Jesus permanece uma relação definida de discipulado pessoal, como o foi para os doze quando ele estava na terra. O Jesus que anda pelas histórias do Evangelho também anda com os cristãos agora, e conhecê-lo significa seguir com ele, tanto agora como antes.
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz", diz Jesus, "eu as conheço, e elas me seguem" (Jo 10:27). Sua "voz" é sua afirmação, sua promessa e seu chamado: "Eu sou o pão da vida [...] a porta das ovelhas [...] o bom pastor [...] a ressurreição" (Jo 6:35; 10:7,14; 11:25). "... Aquele que não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou. Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna..." (Jo 5:23b, 24a). "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim [...] e vocês encontrarão descanso..." (Mt 11:28,29).
A voz de Jesus é "ouvida" quando sua afirmação é reconhecida, quando cremos em sua promessa e respondemos a seu chamado. Desse momento em diante, Jesus passa a ser conhecido como pastor, e os que confiam nele são reconhecidos por ele como suas ovelhas. "[...] eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão" (Jo 10:27,28). Conhecer a Jesus é ser salvo por ele do pecado, da culpa e da morte, nesta vida e na vida futura.
J. I. Packer
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