By Eudmarly Sena
Introdução
No próximo domingo, dia 5,
estaremos iniciando um novo assunto de estudo dominical, na EBD. O assunto da
vez agora são as cartas pastorais, estas estão permeadas de ensinos práticos
para a vida cristã.
Aqui faço um breve comentário, de
acordo com a disposição da lição, mas não toda a disposição, pois minha
intenção não é fazer outra lição, mas sim, disponibilizar algum subsídio aos
professores, e alunos, que estarão engajados no estudo da lição deste trimestre.
As Epistolas pastorais
Estas são: I
Timóteo, II Timóteo e Tito. Assim chamadas porque são dirigidas à lideres ou
ministros, tendo como propósito instruí-los no governo da igreja. As epistolas
trazem o nome desses líderes a quem foi endereçada as cartas: Timóteo e Tito.
São cartas com conselhos práticos muito úteis em relação a vida dentro da
comunidade cristã, a igreja. Foram assim chamadas pela primeira vez em 1726,
pelo estudioso alemão Paul Anton.
Paulo sempre foi um apóstolo preocupado
com a vida na Eclésia, em consequência ele preocupa-se com os jovens
líderes-pastores, a quem escreve para orientá-los acerca do tato em lidar com a
igreja e seus ministérios. Paulo
conhece as questões importantes enfrentadas pelos que são chamados a posição de
liderança pastoral na igreja, destarte, faz considerações aos obreiros citados
supra.
Nestas Epístolas existem um apelo
forte para o ensino da verdade, aos dois jovens líderes, Timóteo e Tito, é
enfatizado que a igreja tem relação intima com a verdade, é um recipiente dela,
que não guarda para si mesma, mas derrama sobre a comunidade cristã a fim de
que todos desfrutem da presença de Cristo, o qual é a fonte de toda a verdade,
e o seu pleno conhecimento deve ser promovido. (Tt 1.1)
“Nada é mais necessário para a
vida, saúde e crescimento da igreja que o ensino fiel da verdade”.[i]
Os líderes das igrejas
De uma certa forma bem
considerável, a Escrituras nos comunicam algo sobre os líderes, Timóteo e Tito,
a quem o apóstolo Paulo forneceu instruções. Vejamos brevemente:
Timóteo
Era natural de Listra (At 16.1. Sua
mãe era judia, e seu pai grego. Sabemos, ainda, que o nome da sua mãe era
Eunice, e da sua vó Lóide (2 Tm 1.5). Após sua conversão, tornou-se filho de Paulo na
fé (1 Tm 1.2), passou a acompanhá-lo na sua segunda viagem (At 6.13). Foi
consagrado pelos presbíteros e por Paulo (1 Tm 4.14; 2 Tm 1.6). Halley diz que
“conforme é delineado mais adiante, Timóteo estava junto com Paulo em muitas de
suas viagens e foi enviado por este como seu cooperador no envio de seis
cartas: 2 Coríntios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses e Filemon”[ii].
Timóteo parece ter sido tímido, de
natureza retraída, e também não possua uma saúde muito boa. Junto com Lucas,
eram os companheiros mais íntimos de Paulo. Este, parecia ter tanto afeto por
Timóteo que sentindo sua ausência, via-se solitário.
A tradição “reza” que depois da
morte de Paulo, o trabalho de Timóteo foi cuidar da igreja em Éfeso e que foi
martirizado quando Nerva ou Domiciano eram imperadores. Se ela estiver correta,
então, Timóteo teria sido colaborador do apostolo João.
Tito
Tito era grego, como Timóteo, foi
um dos convertidos de Paulo (Tt 1.4). Acompanhou o apostolo até Jerusalém, ele
aparece com Paulo em Éfeso e de lá é enviado a Corinto para investigar
desordens na igreja e iniciar um levantamento de uma oferta a favor dos crentes
pobres de Jerusalém (2 Co. 8. 6,10).
Em 2 Timóteo 4.10 está a última
notícia que temos de Tito. Alguns historiadores cristãos dizem que, segundo
parece, voltara a se encontrar com Paulo e estava como ele quando Paulo foi
detido, indo até Roma com ele. Ainda segundo uma outra tradição, veio a ser
bispo de Creta e que morreu tranquilamente em idade avançada.
Data
As datas não são significativas,
elas são aproximadas, por isso há sugestão de datas diferentes, mas não tão
discrepantes. As mais comuns citadas são 64, 65 e 67 d. C., respectivamente
para I Timóteo, Tito e II Timóteo. Nas duas primeiras Paulo ainda estava em
liberdade, mas na terceira, a de II Timóteo, Paulo estava preso, por isso essa
carta também faz parte do grupo das Epistolas da Prisão, e, possivelmente, já
na iminência da morte, Paulo coloca um tom de despedida.
Autoria das Cartas
Pastorais
É comum pensarmos em Paulo como
autor das cartas pastorais, mas essa assertiva já foi posta em dúvida. Por
exemplo, F. C. Baur[iii],
de Tubingen, rejeitou em 1835, e desde então, alguns círculos acadêmicos tem
tentado sustentar com mais vigor a autoria não paulina. O saudoso Carlos O.
Pinto lembra que “a autoria das Epistolas pastorais tem sido desafiada por
quase dois séculos por críticos eruditos”[iv].
Em contrapartida, John Stott
acrescenta “que durante a segunda metade do século XX um número considerável de
estudiosos tem corrido em defesa da autoria paulina”[v].
Podemos dizer que as evidências
internas são fortes o suficiente para comprovar a autoria paulina dessas
cartas, mas é justamente essas evidências que para os críticos contrariam a
autoria paulina. Alguns já até citaram Lucas como possível autor, pois há
semelhanças entre o vocabulário de Atos e das Pastorais. J. N. D. Kelly, que é
citado por Osvaldo Pinto[vi],
defende a autoria de Lucas.
Desde a época de Irineu, Clemente
de Alexandria e Tertuliano que foram os primeiros a citarem os livros
do Novo Testamento por seus nomes, até o início do século XIX, ninguém duvidava
que Paulo fosse o autor das Epistolas Pastorais.
Berkhof cita alguns fatos que
favorecem a autenticidade da autoria de Paulo, diz ele:
“Todas
as cartas se autoconfirmam, elas contêm a benção Paulina característica, no princípio,
terminam com a saudação costumeira, e revelam o interesse usual de Paulo por
suas igrejas e por aqueles que estão associados com ele no trabalho, as cartas
apontam para o mesmo relacionamento entre Paulo e seus filhos espirituais,
Timóteo e Tito, que conhecemos de outras fontes, e se referem às pessoas (cf 2
Tm 4; Tt 3) que também são mencionados em outras passagens como companheiros e
colaboradores de Paulo.”[vii]
Também é perfeitamente natural que
alguém já castigado pelo tempo, cansaço e labor, mude de estilo, não há nenhum
contrassenso em mudar de estilo, principalmente nessa conjuntura atual em que
Paulo escreve as cartas.
Existe várias obras que fazem uma
defesa adequada à autoria paulina, não há, portanto, necessidade de fazer aqui
essa defesa.
Pano de Fundo
Depois da prisão de Paulo
verificou-se essa transformação definida, e, é a essa conjuntura a que me
referir supra. Paulo era um homem diferenciado, nunca esteve disposto a
abandonar sua vocação, esta, aliás, era uma brasa ardente que se se fundia ao
coração, em Filipenses 3.12 nos fala algo sobre isso, mas o tempo depunha contra
ele. Em Filemom, ele descreve a si mesmo como: “Eu, Paulo, já velho” (Fm 9). Já
em Filipenses dava a entender que a morte não estava muito distante (Fp 1.
20,21). Sob esse prisma, Paulo observa cada vez mais a necessidade que tinha de
auxilio de seus companheiros que eram mais novos, e mais aptos para prosseguir
o trabalho da pregação e ensino.
Paulo já cansado, mas com a mesma
preocupação com a verdade cristã, procurou investir em dois jovens que lhe era
muito útil, estes jovens receberiam conselhos quanto aos cuidados práticos da
igreja. Stott diz que “Paulo está
preocupado com a vida da igreja local, em especial, com a responsabilidade que
ela tem de guardar e ensinar a verdade. ”[viii]
A preocupação de Paulo em todas as
três cartas pastorais é a igreja, seu cansaço e fadiga, devido à idade, fazem o
apóstolo escrever estas pastorais aos seus “pupilos”, demonstrando todo o dever
prático que se deve ter com a igreja na propagação e vivência da verdade.
Conteúdo
As cartas pastorais possuem muita
coisa em comum, tanto em estilo quanto a doutrina e alusões históricas, que
devem ser tratadas como um grupo da mesma maneira como as Epístolas da Prisão.
A preocupação dominante de Paulo em todas as três cartas pastorais é a igreja.
Ele a define como “coluna e fundamento da verdade” (I Tm 3.15); não encontramos
aqui uma nova apresentação objetiva da verdade, mas apenas uma aplicação
prática das doutrinas já apresentadas em cartas anteriores. É o ciclo das Epistolas
Paulinas terminando com admoestações práticas.
Ambas as cartas têm em comum a
ênfase dada aos líderes que devem silenciar as heresias ameaçadoras, e também
indicar líderes qualificados nas respectivas igrejas, bem como manter a
integridade do Evangelho gracioso de Deus, e instruir pessoas para que vivam de
modo piedoso em suas comunidades.
O conteúdo indica que as cartas
deveriam ser lidas por todas as igrejas, o título “cartas pastorais” não
reflete, de forma absoluta, que esta seja unicamente para a liderança como pode
aparentar o título. Roy Zuck escreve que “as epistolas embora endereçadas
especificamente à Timóteo e Tito, contêm evidências que revelam que Paulo se
dirige, “além” desses dois, ao corpo de ouvintes mais abrangentes dessas
igrejas (I Tm 2. 8,11; 3.12; 5.3-8; 14-18; Tt 3.14) ”.[ix]
Seu conteúdo alcança a todos os
cristãos, Paulo estava dando instrução para situações históricas reais de duas
igrejas que estavam sob os cuidados de Timóteo e Tito, os quais ele conhecia
intimamente. Assim, os princípios contidos nas cartas podem ser aplicados em
igrejas de qualquer época e lugar.
Propósito e Mensagem
Ambas as Epistolas têm como alvo
orientar os líderes quanto à vida pessoal, mas também para tratar do falso
ensino que estava com efeitos prejudiciais (é próprio da heresia) nas novas
igrejas. Como o perigo parecia ser mais
ameaças internas do que externas, Paulo enfatiza que os líderes devem
combater com ensino sadio, com um bom exemplo de vida, vida santa, organizando
as igrejas e preparando líderes para ela.
Sua mensagem se destaca para a
necessidade de supervisão pastoral nas igrejas. Organização das igrejas na
importância da doutrina apostólica, e em refutar as falsas doutrinas.
Descrevem, as cartas pastorais, em detalhes as qualificações dos líderes
cristãos. A ênfase é vida santa, um ponto característico das pastorais (conf. I
Tm. 1.3-7; 2.8-10; II Tm 1. 3-12; 2.14-19; Tt 3.1-11).
Uma mensagem para a
igreja local e a liderança da atualidade.
A Bíblia como a Palavra de Deus
inspirada e inerrante sempre tem uma mensagem atual para a Igreja. As pastorais
contêm princípios com aplicações universais.
O foco teológico é a urgente
necessidade de defender a fé contra os desvios doutrinários que ameaçam a
integridade doutrinária e, em consequência, encorajam a fé à erros
prejudiciais.
Na medida em que estas cartas forem
estudadas, ainda que sucintamente, perceberemos a grandeza de Deus em falar com
sua igreja através dos conselhos paulino.
Paulo adverte aos crentes em
relação a apostasia na comunidade cristã, isto particularmente em Timóteo. Já
em Tito, adverte sobre a apostasia especificamente sobre os falsos líderes (Tt
1.9-13). Que atualidade!
Mensagem para a
Liderança
Broadus[x]
diz que “ estas epistolas não são manuais de organização eclesiástica ou
métodos eclesiásticos”. É sensato concordamos com ele, pois, há um vício muito
grande dessas coisas hoje, não tiro o mérito delas, mas seus excessos podem
incorrer em perda de essência quanto à igreja enquanto organismo e limitá-la a
uma mera organização. Nas pastorais
ainda temos a ênfase nos conselhos para que os líderes sejam esforçados, tenham
vida santa e sejam irrepreensíveis. Aqui a boa liderança se caracterizará como coerente
com a ética cristã para com Deus e a igreja. (Fp 3.17; I Co 11.1)
Conclusão
As epístolas pastorais são a fonte
mais confiável para entendermos como andava a igreja no período de transição
entre a igreja pioneira e a igreja institucionalizada a partir do segundo
século depois de Cristo. Portanto, tem um teor grandioso de ensino para todas
as comunidades cristãs hoje, a questão é: estamos dispostos a atender a voz de
Deus nessas cartas?
[i] John
Stott, O incomparável Cristo (São Paulo: ABU, 2006), p. 65.
[ii]
Henry H. halley, Manual bíblico de Halley (São Paulo: Editora Vida, 2001
[iii] Ele
foi um dos primeiros defensores do estudo histórico ou científico da Bíblia.
Ele desenvolveu uma escola de seguidores, principalmente em Tübingen, mas o
movimento diminuiu com a sua morte.
[iv]
Carlos Osvaldo Pinto, Foco e Desenvolvimento do Novo Testamento (São Paulo:
Hagnos), p. 425.
[v] John
Stott, O incomparável Cristo (São Paulo: ABU, 2006), p. 63.
[vi] Carlos
Osvaldo Pinto, Foco e Desenvolvimento do Novo Testamento (São Paulo: Hagnos),
p. 427.
[vii]
Louis Berkhof, Introdução ao Novo Testamento (Rio de Janeiro: CPAD, 2014) p. 203.
[viii]
John Stott, O incomparável Cristo (São Paulo: ABU, 2006), p. 63.
[ix] Mak
L. Bailey, “Teologia das epistolas pastorais”, em Roy B. Zuck (ed), (Rio de
Janeiro: CPAD, 2012), P. 370.
[x] Broadus
David Hale, Introdução ao Estudo do Novo Testamento (São Paulo: Hagnos, 2001),
p. 321.
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