sexta-feira, 3 de julho de 2015

Subsídio bíblico-teológico para a Revista da Escola Bíblica Dominical LIÇÕES BÍBLICAS - de Adultos - (CPAD) - 3º Trimestre de 2015 -LIÇÃO 1- UMA MENSAGEM À IGREJA LOCAL E À LIDERANÇA.



By Eudmarly Sena
Introdução                               

No próximo domingo, dia 5, estaremos iniciando um novo assunto de estudo dominical, na EBD. O assunto da vez agora são as cartas pastorais, estas estão permeadas de ensinos práticos para a vida cristã.
Aqui faço um breve comentário, de acordo com a disposição da lição, mas não toda a disposição, pois minha intenção não é fazer outra lição, mas sim, disponibilizar algum subsídio aos professores, e alunos, que estarão engajados no estudo da lição deste trimestre.

As Epistolas pastorais
Estas são: I Timóteo, II Timóteo e Tito. Assim chamadas porque são dirigidas à lideres ou ministros, tendo como propósito instruí-los no governo da igreja. As epistolas trazem o nome desses líderes a quem foi endereçada as cartas: Timóteo e Tito. São cartas com conselhos práticos muito úteis em relação a vida dentro da comunidade cristã, a igreja. Foram assim chamadas pela primeira vez em 1726, pelo estudioso alemão Paul Anton.
Paulo sempre foi um apóstolo preocupado com a vida na Eclésia, em consequência ele preocupa-se com os jovens líderes-pastores, a quem escreve para orientá-los acerca do tato em lidar com a igreja e seus ministérios.   Paulo conhece as questões importantes enfrentadas pelos que são chamados a posição de liderança pastoral na igreja, destarte, faz considerações aos obreiros citados supra.
Nestas Epístolas existem um apelo forte para o ensino da verdade, aos dois jovens líderes, Timóteo e Tito, é enfatizado que a igreja tem relação intima com a verdade, é um recipiente dela, que não guarda para si mesma, mas derrama sobre a comunidade cristã a fim de que todos desfrutem da presença de Cristo, o qual é a fonte de toda a verdade, e o seu pleno conhecimento deve ser promovido. (Tt 1.1)
“Nada é mais necessário para a vida, saúde e crescimento da igreja que o ensino fiel da verdade”.[i]

Os líderes das igrejas
De uma certa forma bem considerável, a Escrituras nos comunicam algo sobre os líderes, Timóteo e Tito, a quem o apóstolo Paulo forneceu instruções. Vejamos brevemente:

Timóteo
Era natural de Listra (At 16.1. Sua mãe era judia, e seu pai grego. Sabemos, ainda, que o nome da sua mãe era Eunice, e da sua vó Lóide (2 Tm 1.5). Após sua conversão, tornou-se filho de Paulo na fé (1 Tm 1.2), passou a acompanhá-lo na sua segunda viagem (At 6.13). Foi consagrado pelos presbíteros e por Paulo (1 Tm 4.14; 2 Tm 1.6). Halley diz que “conforme é delineado mais adiante, Timóteo estava junto com Paulo em muitas de suas viagens e foi enviado por este como seu cooperador no envio de seis cartas: 2 Coríntios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses e Filemon”[ii].
Timóteo parece ter sido tímido, de natureza retraída, e também não possua uma saúde muito boa. Junto com Lucas, eram os companheiros mais íntimos de Paulo. Este, parecia ter tanto afeto por Timóteo que sentindo sua ausência, via-se solitário.
A tradição “reza” que depois da morte de Paulo, o trabalho de Timóteo foi cuidar da igreja em Éfeso e que foi martirizado quando Nerva ou Domiciano eram imperadores. Se ela estiver correta, então, Timóteo teria sido colaborador do apostolo João.

Tito
Tito era grego, como Timóteo, foi um dos convertidos de Paulo (Tt 1.4). Acompanhou o apostolo até Jerusalém, ele aparece com Paulo em Éfeso e de lá é enviado a Corinto para investigar desordens na igreja e iniciar um levantamento de uma oferta a favor dos crentes pobres de Jerusalém (2 Co. 8. 6,10).
Em 2 Timóteo 4.10 está a última notícia que temos de Tito. Alguns historiadores cristãos dizem que, segundo parece, voltara a se encontrar com Paulo e estava como ele quando Paulo foi detido, indo até Roma com ele. Ainda segundo uma outra tradição, veio a ser bispo de Creta e que morreu tranquilamente em idade avançada.

Data
As datas não são significativas, elas são aproximadas, por isso há sugestão de datas diferentes, mas não tão discrepantes. As mais comuns citadas são 64, 65 e 67 d. C., respectivamente para I Timóteo, Tito e II Timóteo. Nas duas primeiras Paulo ainda estava em liberdade, mas na terceira, a de II Timóteo, Paulo estava preso, por isso essa carta também faz parte do grupo das Epistolas da Prisão, e, possivelmente, já na iminência da morte, Paulo coloca um tom de despedida.

Autoria das Cartas Pastorais
É comum pensarmos em Paulo como autor das cartas pastorais, mas essa assertiva já foi posta em dúvida. Por exemplo, F. C. Baur[iii], de Tubingen, rejeitou em 1835, e desde então, alguns círculos acadêmicos tem tentado sustentar com mais vigor a autoria não paulina. O saudoso Carlos O. Pinto lembra que “a autoria das Epistolas pastorais tem sido desafiada por quase dois séculos por críticos eruditos”[iv].
Em contrapartida, John Stott acrescenta “que durante a segunda metade do século XX um número considerável de estudiosos tem corrido em defesa da autoria paulina”[v].
Podemos dizer que as evidências internas são fortes o suficiente para comprovar a autoria paulina dessas cartas, mas é justamente essas evidências que para os críticos contrariam a autoria paulina. Alguns já até citaram Lucas como possível autor, pois há semelhanças entre o vocabulário de Atos e das Pastorais. J. N. D. Kelly, que é citado por Osvaldo Pinto[vi], defende a autoria de Lucas.
Desde a época de Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano que foram os primeiros a citarem os livros do Novo Testamento por seus nomes, até o início do século XIX, ninguém duvidava que Paulo fosse o autor das Epistolas Pastorais.
Berkhof cita alguns fatos que favorecem a autenticidade da autoria de Paulo, diz ele:

“Todas as cartas se autoconfirmam, elas contêm a benção Paulina característica, no princípio, terminam com a saudação costumeira, e revelam o interesse usual de Paulo por suas igrejas e por aqueles que estão associados com ele no trabalho, as cartas apontam para o mesmo relacionamento entre Paulo e seus filhos espirituais, Timóteo e Tito, que conhecemos de outras fontes, e se referem às pessoas (cf 2 Tm 4; Tt 3) que também são mencionados em outras passagens como companheiros e colaboradores de Paulo.”[vii]


Também é perfeitamente natural que alguém já castigado pelo tempo, cansaço e labor, mude de estilo, não há nenhum contrassenso em mudar de estilo, principalmente nessa conjuntura atual em que Paulo escreve as cartas.
Existe várias obras que fazem uma defesa adequada à autoria paulina, não há, portanto, necessidade de fazer aqui essa defesa.

Pano de Fundo
Depois da prisão de Paulo verificou-se essa transformação definida, e, é a essa conjuntura a que me referir supra. Paulo era um homem diferenciado, nunca esteve disposto a abandonar sua vocação, esta, aliás, era uma brasa ardente que se se fundia ao coração, em Filipenses 3.12 nos fala algo sobre isso, mas o tempo depunha contra ele. Em Filemom, ele descreve a si mesmo como: “Eu, Paulo, já velho” (Fm 9). Já em Filipenses dava a entender que a morte não estava muito distante (Fp 1. 20,21). Sob esse prisma, Paulo observa cada vez mais a necessidade que tinha de auxilio de seus companheiros que eram mais novos, e mais aptos para prosseguir o trabalho da pregação e ensino.
Paulo já cansado, mas com a mesma preocupação com a verdade cristã, procurou investir em dois jovens que lhe era muito útil, estes jovens receberiam conselhos quanto aos cuidados práticos da igreja.  Stott diz que “Paulo está preocupado com a vida da igreja local, em especial, com a responsabilidade que ela tem de guardar e ensinar a verdade. ”[viii]
A preocupação de Paulo em todas as três cartas pastorais é a igreja, seu cansaço e fadiga, devido à idade, fazem o apóstolo escrever estas pastorais aos seus “pupilos”, demonstrando todo o dever prático que se deve ter com a igreja na propagação e vivência da verdade.

Conteúdo
As cartas pastorais possuem muita coisa em comum, tanto em estilo quanto a doutrina e alusões históricas, que devem ser tratadas como um grupo da mesma maneira como as Epístolas da Prisão. A preocupação dominante de Paulo em todas as três cartas pastorais é a igreja. Ele a define como “coluna e fundamento da verdade” (I Tm 3.15); não encontramos aqui uma nova apresentação objetiva da verdade, mas apenas uma aplicação prática das doutrinas já apresentadas em cartas anteriores. É o ciclo das Epistolas Paulinas terminando com admoestações práticas.
Ambas as cartas têm em comum a ênfase dada aos líderes que devem silenciar as heresias ameaçadoras, e também indicar líderes qualificados nas respectivas igrejas, bem como manter a integridade do Evangelho gracioso de Deus, e instruir pessoas para que vivam de modo piedoso em suas comunidades.
O conteúdo indica que as cartas deveriam ser lidas por todas as igrejas, o título “cartas pastorais” não reflete, de forma absoluta, que esta seja unicamente para a liderança como pode aparentar o título. Roy Zuck escreve que “as epistolas embora endereçadas especificamente à Timóteo e Tito, contêm evidências que revelam que Paulo se dirige, “além” desses dois, ao corpo de ouvintes mais abrangentes dessas igrejas (I Tm 2. 8,11; 3.12; 5.3-8; 14-18; Tt 3.14) ”.[ix]
Seu conteúdo alcança a todos os cristãos, Paulo estava dando instrução para situações históricas reais de duas igrejas que estavam sob os cuidados de Timóteo e Tito, os quais ele conhecia intimamente. Assim, os princípios contidos nas cartas podem ser aplicados em igrejas de qualquer época e lugar.

Propósito e Mensagem
Ambas as Epistolas têm como alvo orientar os líderes quanto à vida pessoal, mas também para tratar do falso ensino que estava com efeitos prejudiciais (é próprio da heresia) nas novas igrejas. Como o perigo parecia ser mais  ameaças internas do que externas, Paulo enfatiza que os líderes devem combater com ensino sadio, com um bom exemplo de vida, vida santa, organizando as igrejas e preparando líderes para ela.
Sua mensagem se destaca para a necessidade de supervisão pastoral nas igrejas. Organização das igrejas na importância da doutrina apostólica, e em refutar as falsas doutrinas. Descrevem, as cartas pastorais, em detalhes as qualificações dos líderes cristãos. A ênfase é vida santa, um ponto característico das pastorais (conf. I Tm. 1.3-7; 2.8-10; II Tm 1. 3-12; 2.14-19; Tt 3.1-11).

Uma mensagem para a igreja local e a liderança da atualidade.
A Bíblia como a Palavra de Deus inspirada e inerrante sempre tem uma mensagem atual para a Igreja. As pastorais contêm princípios com aplicações universais.
O foco teológico é a urgente necessidade de defender a fé contra os desvios doutrinários que ameaçam a integridade doutrinária e, em consequência, encorajam a fé à erros prejudiciais.
Na medida em que estas cartas forem estudadas, ainda que sucintamente, perceberemos a grandeza de Deus em falar com sua igreja através dos conselhos paulino.
Paulo adverte aos crentes em relação a apostasia na comunidade cristã, isto particularmente em Timóteo. Já em Tito, adverte sobre a apostasia especificamente sobre os falsos líderes (Tt 1.9-13). Que atualidade!

Mensagem para a Liderança
Broadus[x] diz que “ estas epistolas não são manuais de organização eclesiástica ou métodos eclesiásticos”. É sensato concordamos com ele, pois, há um vício muito grande dessas coisas hoje, não tiro o mérito delas, mas seus excessos podem incorrer em perda de essência quanto à igreja enquanto organismo e limitá-la a uma mera organização.  Nas pastorais ainda temos a ênfase nos conselhos para que os líderes sejam esforçados, tenham vida santa e sejam irrepreensíveis. Aqui a boa liderança se caracterizará como coerente com a ética cristã para com Deus e a igreja. (Fp 3.17; I Co 11.1)

Conclusão
As epístolas pastorais são a fonte mais confiável para entendermos como andava a igreja no período de transição entre a igreja pioneira e a igreja institucionalizada a partir do segundo século depois de Cristo. Portanto, tem um teor grandioso de ensino para todas as comunidades cristãs hoje, a questão é: estamos dispostos a atender a voz de Deus nessas cartas?




[i] John Stott, O incomparável Cristo (São Paulo: ABU, 2006), p. 65.
[ii] Henry H. halley, Manual bíblico de Halley (São Paulo: Editora Vida, 2001
[iii] Ele foi um dos primeiros defensores do estudo histórico ou científico da Bíblia. Ele desenvolveu uma escola de seguidores, principalmente em Tübingen, mas o movimento diminuiu com a sua morte.
[iv] Carlos Osvaldo Pinto, Foco e Desenvolvimento do Novo Testamento (São Paulo: Hagnos), p. 425.
[v] John Stott, O incomparável Cristo (São Paulo: ABU, 2006), p. 63.
[vi] Carlos Osvaldo Pinto, Foco e Desenvolvimento do Novo Testamento (São Paulo: Hagnos), p. 427.
[vii] Louis Berkhof, Introdução ao Novo Testamento (Rio de Janeiro: CPAD, 2014)  p. 203.
[viii] John Stott, O incomparável Cristo (São Paulo: ABU, 2006), p. 63.
[ix] Mak L. Bailey, “Teologia das epistolas pastorais”, em Roy B. Zuck (ed), (Rio de Janeiro: CPAD, 2012), P. 370.
[x] Broadus David Hale, Introdução ao Estudo do Novo Testamento (São Paulo: Hagnos, 2001), p. 321.

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